sexta-feira, 5 de julho de 2019


Eu estou aqui para viver e ver no que vai dar
Essa rotina de sonhos e apagamentos
De colocar o medo antes de tudo
Antes de respirar.

Eu quero só ver no que vai dar
Essa vontade absurda de ter seu canto
De ter o seu espaço
Mas cadê o seu corpo?
Quem é você?
Mataram o nosso nome.
Jogaram ao vento.

Eu quero só ver
Que caminhos a gente pode percorrer
Se os pés estão cansados de correr descalços
E o meu nome ficou para trás.

Eu quero ainda ver
Que esse corpo cansado há de sonhar
No chão quente que as águas passam
E cicatrizam as feridas da alma.

Eu quero a ponta do mundo
Para brincar de chacoalhar
Reordenar as histórias
E bagunçar o princípio dos afetos que não nos ajuda a viver.

Eu quero ver
Se o tempo agirá sobre nós
E restituirá o nosso passado
Restituirá o meu nome?

Eu quero ver o que a encruzilhada me revela
E se não consegui enxergar
Ficar bem com isso.

Meu nome é um corpo em memória
É um Ori
É uma moldura que não cabe em mim
É um rastro inacabado
É uma vida toda.

segunda-feira, 14 de maio de 2018

VERSOS DE GRATIDÃO PARA UMA MULHER DE OXUM


Eu tenho razões insistentes para continuar acreditando em mim.
Eu me reconheço nos nossos segredos mais profundos.
Essa armadura que tenho hoje vem da sua força.
Nasci sem nada, em branco e vulnerável.
Diante do mundo, o seu olhar sempre foi terno e apaixonado.
Você me amou nos versos mais tensos e nas águas mais revoltas,
E eu me sentia protegido e quisto,
Sem dúvidas de sentimentos contrários.
A sua doçura era valente,
Sempre atenta às questões da vida, sofreu duramente.
Mas a força estava sempre lá, presente.
Das decepções, floresceu sem medo,
Se perdia nas águas,
Mas se reencontrava , percebia a sua força,
Entendia a necessidade das lágrimas e não se afogava, nunca.
Aprendeu a metamorfosear,
E no trânsito arriscado do tornar-se menina-mulher, encontrou a sua essência.
Compreendeu os seus propósitos se admirando no espelho,
Renascendo todos os dias,
Construindo as suas próprias convicções,
Na força dos afluentes,
Nos afetos
E [des] construções.
Deixando-me viver livremente, seguia os meus voos,
E orgulhosa se lançava a voar comigo,
Sem arrependimentos.
Me mostrou o verdadeiro amor com braveza,
Sendo sempre a minha melhor amiga.
E o que sinto hoje é reflexo da sua essência.
É uma emoção, no sentido mais grato da palavra, falar desse amor que construiu as minhas armaduras,
O meu lugar de fala.
E essa potência nunca se apaga,
Nem mesmo com a força das águas
Que por um motivo qualquer, na sua mais absoluta simplicidade, instituiu-me como o seu filho.
Eu fui escolhido pelos braços de uma filha de Oxum!
E disso, de você e do seu amor incondicional nunca duvido.

quinta-feira, 22 de junho de 2017

VOCÊ NÃO É OBRIGADO A NADA



Depois de uma dose de amor próprio e bem estar (e de tempo, claro!) você aprende a importância de dizer não.

Sabe por quê? Porque você não é obrigado a nada. Essa ideia de estar sempre se anulando por alguma coisa, por respeito, culpa, medo, amor, sei lá, não vale a pena, de verdade.

Você não é obrigado a gostar de Caetano porque ele é cute. Você não é obrigado a gostar de futebol porque é um “esporte de homens”. Você não é obrigado a namorar um cara porque ele é legal. Você não é obrigado a transar com as pessoas porque cuida do corpo. Você não é obrigado a concordar com o seu chefe porque é ele quem decide as diretrizes. Você não é obrigado a estar numa festa porque ela é badalada. Você não é obrigado a não se sentir bem; com quem e onde estiver.

As pessoas estão muito flexíveis e isso é questionável. Em uma sociedade tão heterogênea, onde vejo os desafios das relações a fora, de aceitar e respeitar as escolhas do outro, é importante refletir se estar sempre disponível a tudo é uma atitude nobre.  O dissenso também é importante. Ele ajuda a construir, a delimitar e estruturar os sentimentos, dentro do que é seu e o que é outro. Anular-se para estar numa relação, aceitando tudo, topando tudo por medo, por insegurança é um risco. Isso é entrega ou suicídio?

O que questiono é a duração disso tudo, até quando você suporta. Falta de posicionamento? De maturidade? Talvez. Mas não se esqueça que são pelas ideias que floresce a admiração. Ninguém é perfeito do jeito que você idealiza, a não ser que queira viver uma eterna ilusão. Viemos de origens familiares distintas, construímos valores morais diferentes e isso é absolutamente normal. Temos um olhar sobre o mundo muito peculiar. Parecidos, mas sempre únicos. Então, negar-se para quê? Para que o outro se sinta feliz? Não, cada um é responsável pela sua felicidade. O outro aparece para te transbordar, porque você é naturalmente pleno. Não permita ser o que você não sustenta. Se não te faz bem, questione o seu lugar. Vale à pena? O que quero? Sou isso mesmo? Nada te obriga a ser; e nem ninguém. Porque beleza não anula defeitos e não substitui princípios. Uma hora, o barco pesa e fica difícil navegar.

Bonito mesmo é assumir suas decisões com propriedade, delicadeza e muita sensatez. Deixar o outro livre para escolher e se sentir leve por isso. Se os amores acontecem pelo tempo, construção, respeito e pela força do encantamento, não tenha dúvidas de que isso só acontece quando há autenticidade.



A única obrigação que temos na vida é de sermos nós mesmos. 

sexta-feira, 24 de março de 2017

TENTAR NOVAMENTE

“Quando a gente resolve dar uma nova chance para o nosso coração é o mesmo que dar uma nova chance ao medo”. Foi exatamente isso que uma amiga me disse em mais uma de nossas longas conversas sobre a coragem de tentar novamente. Talvez você esteja pensando que não há nada demais em tentar, afinal de contas, a felicidade reside nas possibilidades. Mas não é tão fácil assim, se entregar novamente.

Depois de tantas vivências, a gente endurece, amadurece, talvez, de modo a se cercear com várias exigências para o próximo relacionamento, tentando se prevenir das falhas que fizeram os outros não darem certo, na expectativa de viver algo diferente. Mas os caminhos são desafiadores e possuem muitas curvas. Hoje, encontramos muitas pessoas disponíveis para relacionamentos, com aquela vontade de viverem os melhores momentos de suas vidas, com juras eternas de amor e promessas incessantes de um companheirismo sem fim. Mas nada disso é novo... Na verdade, isso sempre acontece de novo.

As decepções e frustrações fazem parte de qualquer relação, sabemos disso, entretanto, encarar um relacionamento, nos dias de hoje, requer de nós um desprendimento de tudo que vivemos para mergulhar nesse mar. A sensação de insegurança que vivenciamos nos faz repensar sobre as escolhas de um compromisso que se estrutura no respeito. E é exatamente isso que falta! A ausência dos valores acordados no início da “paixão fulminante” dá lugar aos conflitos de uma relação estremecida. E não é a crise dos 5, dos 10 e nem dos 20, não é fase, é a forma de lidar com o sentimento, é a maneira de encarar as entrelinhas do que se quer.

E nessas curvas, o carro se descontrola.  Instaura-se o medo, a desconfiança, o sofrimento por ter investido, acreditado na palavra do outro, surgindo o sentimento de descrença. É o que minha amiga afirma: será que vale a pena acreditar de novo?

É o tempo que nos dá aquilo que enxergamos. Ao nosso redor, percebemos as crises de relacionamentos que começaram ontem, que acreditávamos que fossem perdurar. Mas essa suposta volaticidade da era moderna nos acovarda, não nos empodera a tentar novamente. Vivemos um momento de muita procura e menos disposição, porque existe uma grande e sutil diferença (muito sutil!), entre estar disponível e estar disposto. É muito fácil dizer que quer, que ama, que soma, porém quando a formiga morde o braço, some!


As pessoas estão muito acostumadas a pensarem em si e esquecem que companheirismo é uma confluência de ações que buscam e exaltação do querer bem, do respeito ao próprio espaço e do outro também, porque relacionamento de verdade segue a lógica do amor recíproco, não igual, mas necessário dentro das possibilidades de cada sujeito. Acredito que eu e minha amiga teremos longas conversas como esta, pois isso nos faz refletir sobre o que é melhor para nós e qual papel iremos assumir, nos relacionamentos, diante das nossas aspirações em sermos felizes.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

AFETO

É uma questão de tato, de sentir mesmo.
Não adianta tentar substituir o toque se o sentimento é da ordem do afeto.
Isso, afeto.
Tornar-se sensível.
Permitir-se para o desconhecido.
Porque todo encontro pressupõe uma reação.
Sem entrega, confiança e, supostamente, medo, nada suporta.
E talvez seja esse o grande desafio.
O medo de suportar, de sustentar, de se tornar vulnerável ao afeto.
Mas é assim que acontece, que emerge, que faz nascer.
Não há felicidade sem riscos,
Pois é nele que incide as diversas possibilidades.
Eu sei que são escolhas,
Mas é o afeto que motiva, que inquieta,
Que nos lança mudo a fora.
Que leva nossos barcos a deriva, por vezes, a um destino.
A um sentido aceitável para tudo isso, tudo que somos.
É uma questão de tato, acredito.
Esse medo de tentar que nos interroga,
Que nos coloca a prova,
Que nos cega,
Que nos impede de olhar o mundo com mais sensibilidade,
Com mais coragem, mais braveza e leveza.
Por isso, insisto.
Quero estar vulnerável a tudo isso.
Posso não ter a oportunidade de ver a flor,
Mas quero ter a oportunidade de escolher ver sem arrancá-la.
Quero me reinventar todos os dias.
Encantar-me por tudo que o afeto proporciona,
E mesmo na vulnerabilidade,
Correr os riscos.
Porque felicidade é isso,

É uma questão de tato, de sentir o não dito.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016


Você é mais um de bilhões de pessoas que existem. Tá, isso eu sei... Mas não somos bilhões de cabeças iguais, que pensam e agem da mesma forma.

Talvez seja essa grande questão que justifica a maneira como as relações humanas estão dispostas atualmente. As pessoas estão acostumadas a olharem o mundo apenas com o seu espelho, definindo o outro de acordo com as suas expectativas e desejos.

Mas expectativas não definem pessoas, definem a sua dificuldade em lidar com suas próprias questões, com as suas faltas e, naturalmente, frustrações.

É difícil conviver com o que as pessoas “acham” sobre nós, porque isso acarreta o perigo das percepções cristalizadas. É insano pensar que você não o que de fato é, mas aquilo que as pessoas “acham” que você seja. Obviamente, isso não é nenhuma novidade, acontece nas diversas relações, mas até que ponto isso importa?

Pois bem, isso muito me importa!

Estamos na era do consumo exacerbado das coisas. Tudo tem valor, pode ser comprado, tem preço, barganha, leilão, disputa. Difícil é aceitar que tudo passa a ser objeto, inclusive nós. As pessoas estão se acostumando com o trágico comportamento de estarem desenfreadamente disponíveis a todo o custo, isto é, sem custo nenhum. Valorizar-se não está na moda, mas ter um valor no mercado, sim.
Se você gosta de alguém isso é garantia de amor para a vida toda. Se não tem afinidade com outra é a pior do mundo, se você aceita uma solicitação de amizade é resultado de um pacto sexual sem fim, como assim? Até que ponto seremos vistos dessa forma?

Sei que cada um tem as suas escolhas, isso é massa, por isso tenho as minhas, entretanto, não sou objeto.  As pessoas não são encontradas em prateleiras, nem muito menos à venda em campanhas promocionais. Eu compro roupa, remédio, perfume, comida, bebida, tênis e um monte de outras coisas, mas não compro pessoas. Sentimentos, valores, princípios seguem a lógica interna, do sujeito, portanto, uma lógica que não é medida [e nem deve] seguir a lógica dos prazeres mundanos.

Essa permissão de se tornar o que os outros “acham” é de uma perversão sem igual. É um direito que cabe a cada um, eu sei, mas aprisiona. Não posso me violentar a ponto de me imaginar uma coisa. A chamada coisificação é um processo violento, avassalador que deslegitima a capacidade e direito de existir do outro.

O que falta, sinceramente, é a vontade de sustentar os sentimentos com mais responsabilidade. Que seja sexo apenas, ou um abraço, mas que seja consciente e autêntico. Deixar-se levar pelo olhar alheio me faz perder a dimensão de estar no mundo, de manter os meus posicionamentos e construir minha história.

E acredito que falta isso hoje em dia. Falta o encantamento das relações [qualquer que seja!], a leveza de escutar uma negativa sem agressividade, de ser abraçado e beijado sem medo de sentimentos contrários, e viver a realidade, o que está posto, de fato.


Sou um entre bilhões, eu sei, mas continuo sendo Eu.

sábado, 25 de julho de 2015

AMIGOS

De repente você percebe que amizade requer muito mais que estar junto.
É compartilhar, dentre muitas coisas, as diferenças e contrastes de opiniões, de valores e de posicionamentos, acima de tudo.
Porque esse tipo de relação, por mais linda que seja, demanda pactos, acordos e atitude recíproca, independente da proporção que se dá para reconhecê-la.
Amizade é mais uma construção do que um desafio. É o conselho que se dá pensando na história do outro, independente da sua história.
É ser apoio para o empoderamento das escolhas que o outro possa fazer, mesmo que sua percepção não siga a mesma lógica.
Amizade é uma forma de escolher a própria família, trazer agregados, formar laços maiores, talvez a maior sensação de pertença.
Porque amizade é amor.
Sentimento puro, entretanto, jamais ingênuo.
Uma parceria para toda a vida, por mais que a distância dite as regras do jogo.
É um compromisso que se firma com base no respeito, no cuidado, sem sentimentos contrários, mas sem projeções nem muito menos perfeições.
Pois nenhuma relação sobrevive de idealizações.
E a amizade, como amor, é sentimento puro dos seres imperfeitos.
É a prática do carinho, mesmo na turbulência do cotidiano.
É a preocupação, o querer bem, a raiva, o estresse daquilo que o outro não entende, mas que prevalece o amor, e a parceria vive, respira, faz cor.
Amizade não é fardo, é tato.
Não é imposição, é sensibilidade, toque, olho no olho, sangue pulsante.
É ritmo, adaptação constante.
Que essa dádiva, dos seres imperfeitos, sobreviva as inconstâncias dos valores e da verdade.
Que não se misture as intenções voláteis,
E que renove, através de pactos, laços e nós, esse sentimento de irmandade.

Eu estou aqui para viver e ver no que vai dar Essa rotina de sonhos e apagamentos De colocar o medo antes de tudo Antes de resp...